quinta-feira, 23 de julho de 2015

O SISTEMA DO ANTICRISTO

O tempo que estamos vivendo nesta ilusão da dualidade nos traz muitas expectativas e possibilidades. Neste sentido é necessário que nossa Consciência esteja alerta e informada para não cairmos nas armadilhas da maya cósmica ou dunya que geram sofrimento para nossa alma. Principalmente em um país como o Brasil, onde a total inversão de todos os valores espirituais e morais tomaram conta da alma do povo e de seus governantes.
Este texto de Charles Upton, metafisico e brilhante escritor da linhagem tradicional de René Guenon e Frithjof Schuon, vem iluminar e clarificar aspectos essenciais das relações de poder cultural, politico e espiritual neste momento.


O SISTEMA DO ANTICRISTO *


                                                                     Charles Upton

                  A Globalização e o Governo Mundial não são, o Sistema do Anticristo, ainda que se encontre entre os fatores que tornarão possível dito regime. O sistema do Anticristo emergirá - está de fato, emergindo - do conflito entre a Nova Ordem Mundial e o conjunto de reações militantes contra ela.

                Na época de Jesus, o Governo Mundial era o Império Romano. Os zelotes eram os revolucionários anti-romanos. Jesus teve cuidado de não fazer declarações que pudessem comprometer a causa dos zelotes e faze-lo aparecer como colaborador dos romanos, mas também relacionou-se com centuriões e agentes de Roma, como os coletores de impostos judeus, escandalizando a muitos patriotas hebreus. Surgiu do povo comum, oprimido tanto por Roma como pelas classes dominantes coloniais judias que faziam o trabalho sujo para esta, e denunciou a estes setores -escribas, fariseus, saduceus e herodianos - que faziam causa comum com o Império, portanto não disse uma palavra contra os zelotes e os essênios. Mas não se identificou com a "vanguarda" violenta que atuava em nome do povo. 

             Podemos dizer, portanto, que pelas mesmas razões que Cristo evitou ser identificado tanto com o Império Romano como com seus oponentes ativos, deveríamos ser cuidadosos e não identificar estritamente ao Anticristo, nem com o Governo Mundial, nem com o terrorismo anti-globalista. Ambos proporcionarão o cenário do qual ele emergirá; mas, tal como Cristo evitou ser reivindicado por algum partido, pois sua missão redime não só aos judeus, senão a toda a humanidade, o Anticristo, para edificar seu poder sobre todos os aspectos da alma humana, nos últimos dias "jogará em ambos os lados contra o centro". 

            O Anticristo, em outras palavras, não é o principal inimigo da democracia ou da independência nacional, senão da humanidade em si, considerada como criada a imagem e semelhança de Deus. Em sua mais profunda essência, a batalha entre Cristo e o Anticristo não é entre liberdade e tirania (ainda que o Anticristo não possa entrar ali onde existe a verdadeira liberdade), nem entre os corpos religiosos tradicionais e a sociedade secular (ainda que o campo deste conflito possa, ao menos em alguns casos, estar mais próximo da guerra real), senão entre a sagrada presença de Deus no coração humano e a sacrílega violação desta presença: "Quando vejais, pois, a abominação da desolação, anunciada pelo profeta Daniel, erigida no Lugar Santo (o que leia e que entenda), então, os que estão na Judeia, fugiram aos montes." (Mt 24: 15-16).

               Ao minar e comprometer a todas as formas religiosas, a globalização esta em vias de destruir todas as culturas tradicionais e nacionais. Mas opor-se gratuitamente a todo plano e ação a escala global também se torna problemático. A irônica verdade é que, dado que temos o globalismo, necessitamos globalismo. Se o negocio é internacional, os sindicatos devem também ser internacionais, ou os salários poderão eventualmente baixar em todas as partes abaixo do nível de subsistência. Se as epidemias são globais, os programas de saúde pública devem cruzar as fronteiras nacionais. Se a contaminação é global, os esforços para limita-la devem ser globais. Se o crime é global, a policia deve ser também. Se as nações "emergentes" e os grupos terroristas desenvolvem armas de destruição massiva, devem realizar-se tentativas para limitar sua proliferação. Não temos outra escolha do que tratar de governar a terra a escala planetária. Mas a luta para consegui-lo está produzindo resultados ambíguos. Se, para consolidar seu domínio, os poderes existentes podem manipular o ecologismo, os programas de saúde pública, a pacificação pela força, a guerra contra o crime internacional, o terrorismo e o tráfico de drogas, o farão. Ou, melhor, já o fazem.  
     
              Quem se oponha ao esforço para salvar o meio ambiente, cortar o tráfico internacional de drogas ou limitar a ameaça do terrorismo nuclear estará trabalhando contra os melhores interesses da Terra e da Humanidade. Mas aquele que se identifique com ditos esforços ou ponha suas esperanças neles, se enganará.


              A terra não pode ser governada a escala planetária, porque as forças do globalismo que aspiram a esse governo (...) são as mesmas que estão em primeiro lugar criando estes problemas. A extensão global da industria e a exploração dos recursos - originada e na atualidade (mesmo com o intervalo comunista) dirigida pelo capitalismo transnacional-são a origem da degradação ambiental. Destruindo as economias de subsistência tradicionais e proletarizando o trabalho (com a enorme ajuda da brutal coletivização da agricultura ao custo de dezenas de milhões de vidas na Rússia e na China comunistas), explorando a mão de obra barata e ameaçando as identidades culturais religiosas, as próprias forças do capitalismo global criaram o tráfico subterrâneo das drogas, armas, espécies animais em extinção, escravos... Todos, monumentos ao espirito empresarial. Possivelmente, somente um Governo Mundial poderia limitar o poder destrutivo destas forças econômicas internacionais. Mas, quando tal governo emerja, se é que isso possa acontecer, inclusive ainda que possa ter alguma influencia atenuante sobre os desastres globais, o fará como agente destas forças, não como seu adversário.

                 A política é a arte do efémero. Tudo que é valioso para o homem e que é obtido através da ação política é temporal, ambíguo e corruptível. Esta é a natureza do tempo e da historia, sua essência em fim. A luta pela justiça social ou para salvar o meio ambiente é louvável. Toda pessoa que consiga evitar ser derrotada pelas circunstancias e não chegue a converter-se em um explorador e  opressor dos outros é uma benção para a espécie humana. Cada espécie que possa ser salva da extinção permanece como um incomparável espelho de um único aspecto da naturaleza Divina, e, dado que não podemos saber com certeza se o fim deste Éon supõe ou não a total destruição da vida na Terra (inclusive a de toda vida humana – o que sabemos é que será o fim para "nós"), pode - ou não - engrossar a reserva de biodiversidade para o próximo ciclo de manifestação terrestre.

              Mas a batalha contra o Anticristo se desenvolve em um nível diferente. Ainda que para alguns possa incluir uma vertente política, é essencialmente espiritual. "Meu reino não é deste mundo". É uma luta para salvar não ao mundo, senão a alma humana, começando - e terminando - pela propria alma. 


              De acordo com Apocalipses 20: 7-8: "Quando terminem os mil anos, Satanás será solto de sua prisão e sairá a seduzir às nações dos quatro extremos da terra, a Gog e a Magog, e a reuni-los para a guerra, numerosos como a areia do mar". Segundo O Apocalipses de São João: um comentário ortodoxo, do Arcebispo Averky de Jordanville, o significado de Gog em hebraico é "reunião" ou "alguém que se reúne", e o de Magog "exaltação" o "alguém que exalta". A palavra "exaltação" sugere a ideia de transcendência como oposta a de unidade; "reunião", a de unidade como oposta a de transcendência. A relação desta associação é que um dos profundos enganos do Anticristo nos últimos días do ciclo, será situar estes dois aspectos integrais do Absoluto como em oposição entre sí na mente coletiva e em escala global - nos " quatro extremos da terra".  Quanto da expressão política e econômica desta estéril polaridade satânica, a falsa coesão da tirania esquerdista, assim como a do atual capitalismo global, cairiam sobre Gog; quanto da falsa hierarquização das tiranias de direita ao absolutismo violento dos vários movimentos separatistas "tribais" - tanto étnicos como religiosos - opostos ao globalismo cairiam sobre Magog. Em termos de religião, essas teologias liberais, historicistas, evolucionistas, quase materialistas e cripto pagãs que enfatizam a imanência de Deus como oposta a Sua transcendência são parte de Gog;e quanto às teologias reacionárias que exaltam a transcendência sobre a imanência, olham ao mundo material como um vale de lágrimas, denigrem o corpo humano e contemplam a destruição da natureza com indiferença (senão com secreta aprovação, dado que o melhor que podemos esperar é esquecermos de tudo), são parte de Magog. O conflito entre ambas é precisamente a falsificação satânica do autêntico conflito entre o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores e a Besta com seu falso profeta descrito no Apocalipses 19: 11-20. Aqueles que podem ser atraídos com enganos a uma guerra fraudulenta entre elementos que deveriam reconciliar-se, porque são em essência partes de uma mesma realidade vista em um espelho distorcido, não ouvirão a chamada a combater na verdadeira guerra entre forças que nem deveriam nem poderiam reconciliar-se: as da Verdade e da Mentira (Nota: o Globalismo, enquanto fornece o cenário para a emergência desta "hierarquia invertida" da qual falou Guenon, contem também a semente de Magog; quanto ao tribalismo, como herança comum de todos que estão excluídos da elite global, sustenta a semente de Gog: nos últimos dias, nenhum partido, classe nem setor podem manter sua estabilidade ideológica por longo tempo; a "velocidade da contradição" aproxima-se à da luz).


               Em um mundo profundamente polarizado entre o Gog do globalismo sincretista e o Magog do "tribalismo" exclusivista (uma palavra -"tribalismo"- que está começando a denotar o que poderia se chamar "nacionalismo" ou "patriotismo" ou "fidelidade a  própria religião"), a Unidade Transcendente das Religiões representa claramente um caminho do meio, uma terceira força, ao menos no campo religioso. Se opõe tanto ao universalismo das elites globalistas como a autoafirmação violenta das "tribos" oprimidas e marginalizadas por ditas elites. Talvez esta seja uma das razões pelas quais grupos e indivíduos que sustentam esta doutrina tem sido submetidos a esse imenso grau de pressão física que alguns observadores nos subúrbios da escola tradicionalista, como o proprio autor, não podem deixar de lembrar. É razoável conjecturar que nada daria mais gosto ao Anticristo que subverter e desacreditar aos tradicionalistas, dado que a Unidade Transcendente das Religiões é uma das poucas visões do mundo que possivelmente poderiam colocar-se no caminho do conflito estéril e terminal entre globalismo e tribalismo que é  a tônica de seu "sistema" na arena social.


                  Se todas as alternativas possíveis à luta entre globalismo e tribalismo desaparecem da mente coletiva, o Anticristo terá ganho. Pode usar o globalismo político e econômico e o universalismo de uma "espiritualidade mundial" para subverter e oprimir todas as religiões integrais e as culturas religiosas, forçando-as a estreitar suas visões e violar a totalidade de suas próprias tradições como reação contra ele. Pode conduzi-las a excessos terroristas e intolerantes que lhes fariam aparecer como bárbaras e obsoletas aos olhos daqueles que se debatem entre uma identificação global ou uma tribal e, ao mesmo tempo, lançar a todas uma no pescoço da outra.. Unir para oprimir; dividir e conquistar.

              Sob este prisma, podemos apreciar que o exclusivismo da Cristandade conservadora e/ou tradicional é sua maior força ao mesmo tempo em que sua maior debilidade. O mesmo poderia dizer-se, com certas reservas, do Judaísmo e do Islã. O exclusivismo  destas religiões Abraâmicas as permite encastelar-se conscientemente frente ao sistema do Anticristo. A Cristandade, por seu "espírito de catacumba" e sua habilidade - derivada em última instancia do monaquismo - para edificar fortalezas espirituais frente ao mundo. Ao Islã, pelo fato de que dar-el-Islam continua sendo o maior bloco da humanidade que, em parte e ainda que em níveis variados, está ainda social e politicamente organizado em torno da Revelação Divina, como estiveram a Europa Medieval e o Império Bizantino. Por outra parte, seu próprio exclusivismo  impediu a estas religiões - salvo em poucos casos - fazer uma frente comum contra o universalismo globalista e ao secularismo. Permanecem vulneráveis as táticas de "divide e vencerás" do sistema do Anticristo, uma fase que - se damos crédito a especulações teológicas tradicionais como as contidas na As últimas coisas, de Dennis Engleman - bem que poderiam ser o prelúdio de outra posterior, de "une e oprimirás", de capitulação dos exaustos exclusivistas, ansiosos do fim de um conflito sem fim, perante o universalismo satânico do Anticristo.

                 Segundo As últimas coisas, o Anticristo se revelará em Jerusalém e se proclamará Rei dos Judeus; a nação judia, assim como muitos cristãos, o aceitarão. Desde a perspectiva islâmica, sem duvida, qualquer regente mundial que fosse inicialmente Rei dos Judeus e ao qual depois se submeterão os cristãos seria reconhecido de imediato e universalmente como o Anticristo. Ao menos que o Islam tradicional e inclusive o Islam fundamentalista possam virtualmente desaparecer, é inconcebível que semelhante figura pudesse animar aos muçulmanos a aceita-lo como o Mahdi ou o Jesus escatológico. Portanto, se as previsões recopiladas por Engleman são em algum sentido exatas, está de fato se apresentando como cenário escatológico mais provável uma massiva apostasia de judeus e cristãos que deixaria unicamente aos muçulmanos saber quem é realmente o Anticristo, e prontos para fazer-lhe a guerra. Como, então, poderia o Anticristo emergir como um verdadeiro monarca global, ainda que satânico? Talvez seja a oposição militante de um Islam desacreditado aos olhos do resto do mundo a um "salvador" admirado quase que universalmente, o que termine por consolidar o poder deste.  Isto não é de nenhuma maneira uma predição. Deus me livre! Estou simplesmente permitindo-me imaginar vários cenários baseados nas qualidades de auto-contradição e ironia terminal que são a tônica de todas as forças históricas nestes últimos dias. 


                O Governo Mundial em ascensão mostra muitos sinais de ser o anunciado regime do Anticristo. Mas isto, como já foi pontualizado, não é tão simples, pois as forças "tribais" em reação contra o globalismo são em última instancia parte do mesmo sistema. De acordo com um dos muitos cenários possíveis, as forças satânicas operantes no fim do Éon seriam bem capazes de estabelecer um Governo Mundial só para construir o cenário necessário para a emergência do Anticristo como grande líder de uma revolução mundial contra este governo, que, se triunfasse, seria o verdadeiro Governo Mundial. Também o martírio do Anticristo nas mãos de tal governo poderia constituir um ato deliberado e inclusive um encenado auto-sacrifício, farsa cênica da morte de Cristo e conduzindo a uma ressurreição fraudulenta. Não se está sustentando que isto vai acontecer; não se está prognosticando. Somente se quer pontualizar que para edificar seu poder - exceto no último Conflito Messiânico, chamado nos Apocalipses Armagedom, que é iniciado e concluído por Deus mesmo -, o Anticristo, como falsa manifestação da universalidade Divina, terá a capacidade de usar a todas as partes em todos os conflitos, incluindo um global...
  

               Observando a situação, é muito chocante lembrar que, ainda que ocupadas por forças profundamente diferentes, na Palestina de hoje existem as mesmas "conjunturas" sociopolíticas que existiam há dois mil anos, nos dias de Jesus. O governo israelense esta aonde estavam, os escribas e fariseus. Os militantes palestinos ocupam o lugar dos zelotes. Estados Unidos e/ou a ONU podem representar ao Império Romano. E a posição única de Jesus, na cruz ou cruzamento onde todas as forças contemporâneas convergem, foi ocupada por Yasser Arafat, crucificado nas pontas de cada contradição... Mas Arafat, certamente, não foi Jesus. Em nenhum sentido transcendeu a condição que ocupou; não foi mais que uma marionete das respectivas forças em ação.

             Jesus de Nazaré estava profundamente ao par da situação política. Ao nível humano, devia esta-lo. Isto não significa, desde já, que fosse uma espécie de revolucionário político; de fato, certa sapiência política lhe era necessária para, simplesmente, evitar que fosse forçado a tomar partido a favor ou contra o partido do Templo em sua aliança com Roma, a favor ou contra os zelotes... em um mundo onde se supunha que todos tinham que faze-lo e, aparentemente, tudo se precipitava inexoravelmente para a revolta judia de 66 D. C. Por exemplo, quando seus oponentes lhe desafiaram a responder em público se era ou não legal pagar impostos a Roma, acreditavam te-lo em suas mãos. Se tivesse respondido: "Sim", teria perdido seus seguidores no setor zelote, que, devido a que interpretavam o tributo como um ato de adoração ao imperador estabelecida oficialmente em algumas províncias romanas, o consideravam uma blasfêmia contra Yahweh, especialmente porque a moeda romana com a qual se pagava o tributo, por ter a imagem do imperador, era visto pelos zelotes como um ídolo, uma "imagem de pedra". Teria perdido também sua autoridade moral para criticar aos escribas e fariseus que tinham chegado a um compromisso com o governo colonial romano. Teria sido incluído no partido das autoridades do Templo, pelo menos aos olhos do povo, o que lhe teria isolado dos zelotes e dos essênios. Se, por outro lado, tivesse respondido: "Não", teria sido identificado imediatamente com os zelotes, e teria perdido contato com sua mais ampla audiência. Teria também sido exposto a uma prisão prematura ou a uma possível acusação de revolta. Sua morte, pois, não teria significado mais que a de, digamos, alguém como Barrabás. Como tantos outros milhares, teria sido morto como um rebelde "unidimensional" contra Roma, e teria sido esquecido.


                 Sua escolha de um caminho que evita as armadilhas desta contradição sociopolítica representa uma peça mestra de "sublimação", e pode dar-nos uma chave de como evitar sermos incorporados a falsos conflitos ou rigorosamente definidos e a andar - pelo contrario- pela via que conduz a verdadeira guerra. Primeiro, pediu que alguém da multidão lhe dessa a moeda do tributo, demonstrando assim que não tinha moedas, que era um dos "pobres" - em árabe, fuqara, o plural de faquir, que é sinônimo de Sufi - a quem vinha predicar a "boa nova", e também que a moeda "idólatra" em questão circulava livremente. Em segundo lugar, ao perguntar: "Que imagem é esta?" - ao que lhe responderam: "A de César"- estava se distanciando dos zelotes ao demonstrar claramente que a moeda não podia ser um ídolo, pela simples razão de que o César não era Deus, e por isto poder-se-ia dar a César o que é de César sem cometer blasfêmia. Ao mesmo tempo, estava dizendo, que distribuir a imagem do pequeno falso deus de nenhuma maneira era adorar, senão que poderia inclusive ser um ato de condescendência por parte dos judeus, que conheciam e adoravam ao Deus Vivente. Sua autopercepção e sua privilegiada posição como o Povo Escolhido não podia em nenhum sentido ser violada por seguir a corrente, ao invés do narcisismo destes auto-intitulados césares. Portanto sem um maravilhoso grau de sapiência espiritual e política, Jesus teria inevitavelmente sido incluído no conflito político, e sua missão teria fracassado (esta, certamente, é a situação vista desde o ponto de vista da humanidade de Jesus: desde o ponto de vista de Sua Divindade, Sua missão, ordenada por Deus; não podia fracassar). E esta lição de como evitar envolver-se prematuramente em conflitos políticos e rigorosamente definidos que comprometerão a percepção espiritual e a disposição para atender a verdadeira chamada de Deus, tem também seu lado esotérico; uma "parábola ativa" de como ir mais alem dos pares de opostos e realizar o Absoluto. Na interpretação dos cristãos ortodoxos orientais, "o que é de César" é o peso da moeda em ouro, e "o que é de Deus", é a forma que nela esta gravada do ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus. Nossas vidas pertenceram sempre, eternamente e de idade em idade, a Deus. É por isto que, na ressurreição, pode novamente "encarnar-se" em uma substancia gloriosa e incorruptível. A lição é: não é nossa vida o que devemos proteger do Anticristo - como certos sobrevivencialistas claramente acreditam -, senão nossa forma. Nos últimos dias, como sempre, a luta não é por manter nossas posições, nem sequer nossas vidas, senão evitar perder nossas almas. Em última instancia, esto é o único que se requer de nós.


  
  (*) Extratos do livro The System of Antichrist (Sophia Perennis, 2001). Tradução de Aluizio J. R. Monteiro Jr.




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